segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Poeira

Na paz que abriga o silêncio da imensidão se encontra perdido o elo de um passado que não foi presenciado.
Saudade do que ainda não foi vivido, dos amores encarnados nessa nossa encenação.

Amaldiçoado por despedaçar esperanças
Cultuado por fazer da vida um mar de carências correspondidas.

De vez em quando, chora a situação das respostas não aceitas
Das cartas mal escritas, e das pétalas derramadas sobre o póstumo da tinta, gasto, entre palavras mal ditas.

Sorri pelos cantos, como palhaço sem flor na lapela, sem mangueira de mentirinha.
Argue a bandeira dos que fincaram no peito a vontade de viver a calmaria, bradam esse grito de guerra.

Vez ou outra o sinto bater aqui dentro, escondido, sem vontade de sair.
Vez ou outra, sinto que já foi embora, e só o que resta, é o gosto do amargo que um dia saboreou amoras frescas cobertas de sabores dissolúveis.

Na paz que outrora habitava nossos sorrisos, se desfez como papel queimado, incinerado a vontade de querer se ter,
mas com o soprar da brisa, o vento se transformou em poeira, e levou pra longe toda essa canseira.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Sótão

Caço cada palavra, no encalço da nova descoberta.
Assobio sussuros discretos, na vontade de ser descoberto.

Me encanto com cada olhar, disparado como flecha fulminante,
na esperança de ser atingido e ter o desejo dilacerado, acometido.

Me redescubro em cada gesto, é vontade de querer sem ser.
Se entrelaçar no verbo amar, sem nem conjugar.

Trago pra perto a imensa vontade de não fazer nada, só de olhar pro teto,
e esperar que ele se abra e a poeira cósmica que habita o sótão, finalmente, se revele.

Sendo bem sincero, falta alguma coisa nesse cenário.
Algo que desencadeie essa mudança climática no horóscopo da nossa vida.

O sótão.

sábado, 13 de novembro de 2010

Me dominar

Me desconcerta, assim, me deixa sem respiração
tira meu fôlego, sem medo de perder o ar, asfixiar

Me sufoca com esses lábios cheio de veneno, doce.
envenena minha alma com esse teu aroma, pois teu cheiro fixou na minha mente, na pele.

Traz consigo essa vontade de me ter, me devora pela beirada,
mas deixa o canto esquerdo pro final.

Me corrói, me destroça em pedaços, mas me toma por inteiro.
Mas, por favor, não deixes que nada sobre, pois não sou de restar, sou der consumido até o final.

Usa do teu encanto lascivo, me conduz a tua cama.
Me tira por completo, me deixa sem nada, baixa a minha guarda e me conduz ao que sabes de melhor, me fazer te amar.

Me dominar.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Sobre tentativas - Parte 1

Tentei criar esperança, mas os desejos mofaram, e sem sol a regar, a esperança partiu, sem nem pra trás olhar.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Tempo quie-tempo

sabe onde o tempo foi se esconder?
debaixo da saia do sol, pra se aquecer

mimado e famoso por sempre fazer
do gosto o desgosto de quem quer viver

falava do medo de envelhecer
vagou por lembranças até preencher

tragando um cigarro pra se arrepender
do alcool do doce pra amolecer

coração intragável, dizia assim ser
o ódio é mais fácil, assim, de descer

falava só dela, pra não esquecer
as marcas que o mesmo cansou de trazer

arraigado no peito, a razão de dizer
o quanto odiava não ter quem querer

calado e acabado pelo que e assim ser
fazia do mundo o seu de comer


NOVO (ouça o mp3)

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Ração

Distraiu-se, e perdido, a contraposto do que se formava
adquiriu mais um vício, o de sonhar.

Despertou-se um lado que não conhecia
conquistara o desejo de amar.

Não sabia ao certo onde pisar
esmagava os flocos de nuvem, não sabia como voar.

E enquanto se questionava a respeito de suas crenças
As visões de um novo futuro, restavam a pairar.

Por mais incrédulo que fosse, sabia que um dia a vida iria tratar de
lhe tirar do marasmo que trazia. Sabia que um dia, ele sorriria.

E quando a saudade apertou, daquilo que não conhecia,
só sabia sentir, quietinho, calado, falando baixinho...

chorava pelos cantos a saudade de um sentimento que nunca deu nome
só sabia como o alimentar, mas a ração tinha acabado pra nunca mais voltar a circular.