sábado, 26 de novembro de 2011

Contos Inacabados - 01

- Você é um egoísta - dizia ela. Sem dó nem piedade, parecia ter atingido o ponto fraco dele. Era algo que o irritava profundamente.
- Quem sabe meu egoísmo é apenas uma consequência da sua imaturidade.
Era uma troca de insultos que não passava de uma grande verdade. Ambos tinham muito a aprender. Ela, a confiar e se entregar a alguém. Já ele, precisava aprender a respeitar certos espaços.
Nenhum dos dois sabia o que se passava ali, na verdade, eles só queriam realmente se entender; talvez por medo de perder um ao outro, ou passar por cima do que acreditavam e deixar de lado suas próprias verdades pra não ferir os próprios sentimentos.
Um silêncio ecoou por toda o quarto, daqueles ensurdecedores. Ambos tinham muito a dizer, mas na hora, todos aqueles ensaios em frente ao espelho, pareciam ter terminado em um grande monólogo, só que sem platéia e sem espectador.
- Eu vou embora - disse ela com a voz embargada de raiva e saudades, saudade de um homem que um dia ela amou e que já não era mais aquele homem que estava frente a ela.
- Vá, você é egoísta e imatura, e essa atitude é típica de você. Vá embora como todas as vezes que você foi, só que dessa vez, não vai ter ninguém pra ir atrás de você. - E não teria mesmo, ele estava cansado de protagonizar aquela velha cena em que o mocinho ia atrás da donzela magoada, e com uma trilha sonora perfeita, ambos se reconciliavam como se nenhum problema houvesse existido.
Ali, naquele momento, ele perdeu a mulher que amava. Ela, perdeu alguém que um dia tinha sido o homem que amou. Mas não havia ao menos vestígios de que estivera ali tal pessoa. Ambos haviam perdido demais pra continuarem juntos.
O tempo devocionado a ela não iria voltar, a uma vida ao seu lado, os sonhos, o amor, o casamento e os filhos - que na cabeça dele, soavam extremamente perfeitos -.
Ela, ela perdeu muito mais do que ele. Ela perdeu o primeiro grande amor da vida dela.
E isso, dinheiro nenhum poderia trazer de volta o que havia perdido.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Sensação

Parece tudo a mesma coisa
Da forma como as coisas permanecem
Como elas se juntam e se amontoam

Parece até monotonia
Mas é descaso da alma

Gostaria de ter essas respostas
Essas que aparecem apenas quando o tempo de responder já passou
E todo aquele ensaio, o monólogo em frente ao espelho e em voz alta, não serviu de nada

Gostaria de afastar pra longe o que me inquieta
Mas parece que eu mesmo sou o causador dessa inquietação
Das ansiedades, das vontades, do consumo e da falta de verdade, ou melhor, meia verdade, meias vontades.

E ao final de tudo isso, sabe a sensação de que está faltando algo?

http://www.youtube.com/watch?v=CowOvwRD7g4

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Quando calados.

Quando estamos calados, o mundo desanda.
desacompanha o compasso, marcando o desconcerto.

Atrai em seu campo magnético, a volta do atração
e quando estamos calados, o mundo se solta.

Quando me calo, em mudo, o silencio se sente;
parece preencher o quarto, trazendo lembranças, ou até momentos, difícil de explicar.

Quando te calo, é pra te ouvir sussurrar, brincar com gestos, toques, sentir sem se falar.
Conversar com olhares, os corpos em sinfonia, tudo na perfeita sincronia.

Quando te faço falar, que seja pra dizer apenas o necessário.
Que me ama, e que me quer ao seu lado, seja hoje, seja pro resto da vida.

Quando me calo, é pra não falar besteira, pra não dizer nada além do necessário.
Quando nos calo, é pra entender o que se passa aqui, o que se passa aí, e até o que já passou.

E quando eu falar, apenas ouça o que tenho a dizer.
Muitas vezes não será bom pra mim, mas será pra você.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Chuchu

As vezes eu acho que não vou superar
Seguir em frente, pisar em falso, delirar.

Esperando o ato acabar,
as vezes entro em hiato, esperando o tempo passar.

Consolar-me o conforto que o outro tem pra me dar
esperando mais um ano a tardar.

As vezes me sinto sozinho, como chuchu de feira.
Esperando que larguem o quiabo, pra não me deixar sozinho.

As vezes eu não tenho o mesmo pra falar.
E, as vezes - muitas vezes - só quero esperar.

Que me caia no colo a vontade de rir!
E leve pra longe esse tal de chorar.