sábado, 26 de novembro de 2011

Contos Inacabados - 01

- Você é um egoísta - dizia ela. Sem dó nem piedade, parecia ter atingido o ponto fraco dele. Era algo que o irritava profundamente.
- Quem sabe meu egoísmo é apenas uma consequência da sua imaturidade.
Era uma troca de insultos que não passava de uma grande verdade. Ambos tinham muito a aprender. Ela, a confiar e se entregar a alguém. Já ele, precisava aprender a respeitar certos espaços.
Nenhum dos dois sabia o que se passava ali, na verdade, eles só queriam realmente se entender; talvez por medo de perder um ao outro, ou passar por cima do que acreditavam e deixar de lado suas próprias verdades pra não ferir os próprios sentimentos.
Um silêncio ecoou por toda o quarto, daqueles ensurdecedores. Ambos tinham muito a dizer, mas na hora, todos aqueles ensaios em frente ao espelho, pareciam ter terminado em um grande monólogo, só que sem platéia e sem espectador.
- Eu vou embora - disse ela com a voz embargada de raiva e saudades, saudade de um homem que um dia ela amou e que já não era mais aquele homem que estava frente a ela.
- Vá, você é egoísta e imatura, e essa atitude é típica de você. Vá embora como todas as vezes que você foi, só que dessa vez, não vai ter ninguém pra ir atrás de você. - E não teria mesmo, ele estava cansado de protagonizar aquela velha cena em que o mocinho ia atrás da donzela magoada, e com uma trilha sonora perfeita, ambos se reconciliavam como se nenhum problema houvesse existido.
Ali, naquele momento, ele perdeu a mulher que amava. Ela, perdeu alguém que um dia tinha sido o homem que amou. Mas não havia ao menos vestígios de que estivera ali tal pessoa. Ambos haviam perdido demais pra continuarem juntos.
O tempo devocionado a ela não iria voltar, a uma vida ao seu lado, os sonhos, o amor, o casamento e os filhos - que na cabeça dele, soavam extremamente perfeitos -.
Ela, ela perdeu muito mais do que ele. Ela perdeu o primeiro grande amor da vida dela.
E isso, dinheiro nenhum poderia trazer de volta o que havia perdido.

2 comentários:

  1. Perdas dessa proporção são remediáveis, com o tempo, mas antes que sejam, se dissolvem em inspiração àqueles que mantêm uma relação inabalável com a escrita, como você, Loi. Muito bom. É por aí: escrever sempre. A frase
    " Ambos haviam perdido demais pra continuarem juntos" é exata e o ponto alto do teu conto, na minha leitura. Sempre bom lê-lo! Beijo.

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  2. Parece tão real esse conto....visualizo eles: ela realmente amava ele. Era o casal que quando juntos nada lhes faltava, nada e ninguém. Ele confuso com seus milhões de sonhos. Ela tentava entendê-lo. Ele vivia a euforia. Ela queria o amor tranquilo. Ele ainda com muito a conquistar. Ela querendo viver o sonho já. Escolhera ele pra ser o seu amor, aquele com quem se casaria na igreja e no papel, vestido, buquê, lua de mel...e diria sim se ele quisesse. Mas ele não podia, não naquele momento. Precisava se conhecer mais, precisava viver seu mundo, assumir sua vida. Mas ela ainda o amou, por muito tempo esse amor foi sua companhia e assim ela vivia.

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